Você realmente conhece os Rastafáris ? O movimento tem uma história bem mais interessante do que você pode imaginar.

                                 Você realmente sabe o que está por trás dos Dreads e da Erva ? 

"Todos nós conhecemos os Rastafáris...São aqueles caras com os cabelos cheios de "dreads" que ficam fumando "erva" o dia inteiro..."

Esta é uma frase muito comum, ouvida normalmente por aí quando o assunto são os adeptos do rastafarianismo. Porém, o Movimento Rastafári tem muito mais história do que você pode imaginar, e até os "dreads" e a "erva" começarão a fazer um pouco mais de sentido ao final do post.

Cortadores de Cana jamaicanos no início do século XX

Muito trabalho e poucos direitos

Os Rastafáris fazem parte de um movimento religioso que teve origem na Jamaica em meados da década de 20,  entre os camponeses e trabalhadores negros, que eram altamente explorados e maltratados na época, abrindo caminho fácil para um apego religioso e idéias messiânicas.

 

O Imperador Etíope Hailê Selassiê em dois momentos: Exercendo suas funções políticas e religiosas 

Governou entre 1916 e 1974 

Ela foi baseada na interpretação de uma profecia bíblica onde o Imperador Etíope Hailê Selassiê, tendo o status de único líder de uma nação africana que nunca foi dominada, teria sido nomeado Reis dos Reis, Senhor dos Senhores e o Leão de Judah pela Igreja Ortodoxa Etíope.

Adis Abeba, capital da Etiópia, segundo mais populoso país africano

Apesar da pobreza, os etíopes orgulham-se de ser o único país africano que nunca foi dominado ou colonizado.

 O termo Rastafári vem das palavras RAS (título amárico de nobreza que pode ser traduzido como "príncipe" ou "cabeça"), e TAFARI ("da paz"), desta forma:

RASTAFARI = "Príncipe da Paz"

Por esta razão, Selassiê é o personagem mais importante para os Rastafáris, e as cores do movimento são o verde, dourado e vermelho, as três cores da Bandeira etíope (Você nunca havia se perguntado por que as cores dos rastafáris são diferentes das cores nacionais da Jamaica?)

                                       

As 3 cores passaram a simbolizar não só os Rastafáris, mas também o orgulho africano
Até o famoso grupo afro baiano Olodum as utiliza

Após a morte de Selassiê em 1975, os Rastafáris passaram a acreditar que isto é um engodo, e o imperador etíope permanece em animação suspensa, protegido em local sagrado, até seu retorno triunfal, que ocorrerá quando os rastafáris "libertarem" a Jamaica (só não consegui exatamente compreender o que isto significa)

Selassiê, o Leão de Judah, afagando um de seus "irmãos"


Uma das pessoas que mais contribuíram para que o movimento Rastafári adquirisse força foi o ativista jamaicano Marcus Garvey. Apesar de não ser rastafári, ele foi um dos principais defensores do orgulho negro e volta às raízes africanas na primeira metade do século XX, bem como o fim da colonização no continente, numa filosofia bastante similar aos princípios básicos rastafáris.

Marcus Garvey, o maior ativista da história da Jamaica

Foi uma importante figura mundial na primeira metade do século XX

Os 9 princípios básicos Rastafári

01 - Não alterar o corpo humano quanto a seu estado natural, como: cortar/escovar o cabelo, tatuagens, cortes, plásticas, etc...

Eis a explicação dos dreads e longos cabelos dos seguidores. Isto deixaria os seguidores mais parecidos com um dos símbolos do movimento: o Leão

Nota: Os rastafáris podem lavar os cabelos e o fazem, mas apenas com água, e não o escovam nem cortam.

02 - Amar a irmandade da humanidade

03 - Rejeitar qualquer tipo de alimento que não seja natural (enlatados, industrializados, conservados artificialmente), e também restringir o consumo de proteína animal. A maioria dos rastafáris são vegetarianos

04 - Não aceitar o ódio, inveja, traição e o engano

05 - Ser aderente apenas às leis da antiga Etiópia

06 - Não aprovar os prazeres da sociedade corrente e seus males

Os itens 05 e 06 explicam os motivos deles viverem sempre à margem das sociedades em que habitam

07 - Criar e espalhar uma nova ordem mundial de irmandade

08 - Aceitar apenas um Deus, Jah, respeitando todas as outras religiões

09 - Espalhar a fé, dando a mão a qualquer irmão que esteja em dificuldades. Priorizar os próprios Rastafáris, e depois qualquer outro ser humano, animal ou planta

O uso da Ganja (Maconha)

O uso da maconha, ou ganja, é permitido para fins de limpeza e purificação ritual, mas não são todos os rastafáris que a utilizam. Os que a utilizam sustentam seu uso através das escrituras do Genesis 1:29 "E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento."

Estima-se que hoje existam mais de 1 milhão de Rastafáris pelo mundo (Cerca de 10% da população da Jamaica se intitula Rastafári), mas é muito difícil precisar devido à característica de viver ao largo da sociedade . Um dos grandes difusores do movimento no mundo foi sem dúvida o cantor de Reggae jamaicano Bob Marley. Seus longos cabelos e atitudes chamaram a atenção do grande público para o Rastafarianismo.

Bob Marley, para muitos, o principal símbolo do movimento Rastafári

Este post não tem o objetivo de defender ou denegrir o movimento Rastafári, e muito menos fazer qualquer juízo de valor a respeito. O motivo deste texto é acreditar que conseguiremos conviver muito melhor se entendermos as razões e preceitos que motivam certas atitudes de grupos diferentes do nosso. 

Nossa meta deve ser sempre o respeito entre as etnias e crenças, sejam rastafáris, muçulmanos, católicos, budistas ou qualquer outra...


"While skin color is more important then the brightness of the eyes, there will always be war"
"Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá Guerra"

Bob Marley

Bandeira da Jamaica, berço Rastafári